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Natureza

Polvo tem 3 corações: Entenda essa anatomia única

Polvo tem três corações — e dois deles trabalham mais quando ele está nadando

Quando pensamos em criaturas que mais se assemelham a alienígenas na Terra, os polvos estão, sem dúvida, no topo da lista. Com seus oito tentáculos, inteligência fora do comum e capacidade de camuflagem instantânea, eles são maravilhas da evolução biológica. No entanto, uma das características mais fascinantes — e vitais — desses cefalópodes reside profundamente em sua anatomia interna: o fato de que o polvo tem três corações.

Essa peculiaridade não é apenas um capricho da natureza; é uma necessidade evolutiva complexa ligada à forma como respiram, como seu sangue funciona e, crucialmente, como se movem pelos oceanos. Neste artigo, vamos mergulhar na fisiologia surpreendente destes animais e entender por que, durante o nado, dois desses corações assumem o protagonismo enquanto o terceiro descansa.

A anatomia cardiovascular dos polvos: Por que três corações?

Ao contrário dos humanos e da maioria dos mamíferos, que possuem um único coração musculoso para bombear sangue por todo o corpo, os polvos desenvolveram um sistema multi-bombas para lidar com as limitações de seu ambiente e de seu próprio sangue.

Para entender essa estrutura, precisamos dividir os corações em duas categorias funcionais:

1. O Coração Sistêmico

O coração sistêmico é o “coração principal”. Ele é o responsável por bombear o sangue oxigenado para o corpo do animal, alimentando seus órgãos vitais, cérebro e músculos dos tentáculos. Quando o polvo está em repouso ou rastejando pelo fundo do mar, este coração funciona de maneira rítmica e constante, garantindo a circulação sistêmica.

2. Os Corações Branquiais

Os outros dois são chamados de corações branquiais. Como o nome sugere, eles estão localizados na base de cada uma das duas guelras (brânquias) do polvo. A função destes corações periféricos é receber o sangue desoxigenado que retorna do corpo e bombeá-lo através das guelras para ser oxigenado novamente e enviado ao coração sistêmico.

Eles agem como “turbocompressores” de entrada, garantindo que o sangue passe com pressão suficiente pelos capilares das guelras para capturar oxigênio da água.

A fisiologia do nado: Por que dois corações trabalham mais?

É aqui que a biologia do polvo se torna ainda mais intrigante. O título deste artigo destaca um fato curioso: a dinâmica cardíaca muda drasticamente quando o polvo decide nadar ativamente.

Os polvos se movem principalmente de duas formas: rastejando pelo fundo usando seus tentáculos ou nadando através de propulsão a jato. Para a propulsão, o polvo enche sua cavidade do manto com água e a expele com força através de um sifão, impulsionando-se para a direção oposta.

No entanto, esse esforço físico tem um custo alto para o sistema circulatório:

  • A Parada do Coração Sistêmico: Quando o polvo contrai os músculos do manto para gerar o jato de água, a alta pressão interna impede que o coração sistêmico (o principal) bata efetivamente. Na verdade, ele para temporariamente.
  • A Sobrecarga dos Branquiais: Com o coração principal pausado ou batendo muito lentamente, a circulação depende criticamente dos corações branquiais. Eles continuam trabalhando arduamente para tentar forçar o sangue através das guelras e manter algum nível de oxigenação, embora a circulação para o resto do corpo fique comprometida.

É por isso que os polvos preferem rastejar a nadar. Nadar causa uma exaustão rápida porque o coração que nutre o corpo para de bater. O animal entra rapidamente em “dívida de oxigênio”. É uma ironia evolutiva: o mecanismo que lhes permite fugir rapidamente (o jato) é o mesmo que desliga seu suprimento principal de sangue.

Sangue Azul: O papel da Hemocianina

Para compreender totalmente por que o polvo precisa de três corações, precisamos olhar para o que corre dentro de suas veias. O sangue do polvo não é vermelho como o nosso; é azul.

Diferença entre Hemoglobina e Hemocianina

O sangue humano é vermelho devido à hemoglobina, uma proteína rica em ferro que transporta oxigênio de forma muito eficiente. Os polvos, no entanto, utilizam a hemocianina, uma proteína rica em cobre.

A hemocianina é menos eficiente no transporte de oxigênio do que a hemoglobina, além de tornar o sangue mais viscoso e espesso. Para bombear esse fluido mais “pesado” e menos oxigenado através do corpo, é necessária uma pressão significativa. Um único coração não daria conta de mover esse sangue espesso pelas guelras e depois para o corpo com a eficiência necessária. Daí a necessidade evolutiva dos três corações: dois para vencer a resistência das guelras e um para enviar o sangue já oxigenado ao resto do organismo.

Curiosidades adicionais sobre a biologia dos cefalópodes

A complexidade cardiovascular é apenas a ponta do iceberg quando falamos destes animais incríveis. Além de três corações, a anatomia do polvo apresenta outras características que desafiam a nossa compreensão de biologia básica:

  • Nove “Cérebros”: Além de um cérebro central (em formato de rosquinha), cada um dos oito tentáculos possui um aglomerado de neurônios (gânglios) que permite que os braços ajam com certa autonomia.
  • Regeneração: Assim como perdem energia rapidamente ao nadar, eles têm uma capacidade incrível de regenerar membros perdidos completamente funcionais.
  • Vida Curta: Apesar de toda essa complexidade biológica, a maioria das espécies de polvos vive pouco tempo, geralmente de 1 a 2 anos, morrendo logo após o acasalamento.

Conclusão

Saber que o polvo tem três corações nos ajuda a respeitar ainda mais a complexidade da vida marinha. A natureza encontrou uma solução de engenharia única para um problema fisiológico: como bombear sangue viscoso e azul em um corpo mole.

Na próxima vez que você vir um vídeo de um polvo nadando graciosamente, lembre-se do esforço titânico que está ocorrendo internamente: dois corações branquiais trabalhando no limite, enquanto o coração principal faz uma pausa forçada, lembrando ao animal que, em breve, ele precisará voltar a rastejar no fundo do mar para descansar.

 

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